O cancro da mama

Partilhas

Testemunho de Pat, de Hong Kong, diagnosticada em 2021

  • O que foi que lhe deu mais força ao longo do processo de recuperação? 
  • Manteve sempre a esperança? Se sim, o que ajudou?
  • Que conselho daria a quem recebeu neste momento um diagnóstico?
  • Que conselho daria a quem está neste momento a passar por um processo de recuperação/início de recuperação?
  • Qual a maior lição que retirou desta fase da sua vida? 
  • O que sentiu ao saber que estava recuperada?
  • O que sente ao saber que há cientistas que se dedicam exclusivamente a estudar esta doença e formas de tratamento?
  • Que outras mensagens de força quer deixar para quem acabou de ser diagnosticado ou está em processo de tratamento? 
  • Há algo mais que queira partilhar (uma história, um momento, etc)?

Pede-se, desde já, desculpa pela indisponibilidade de aceder a um teclado que permitisse uma escrita correta do idioma português aquando da redação deste texto (o qual devera contemplar – grosso modo – uma resposta para cada uma das questões colocadas acima no sentido de tomar as mesmas, no geral, como pontos de partida), esperando que este possa ser de alguma utilidade.

Tendo sido diagnosticada com um carcinoma triplo negativo (sem que o estudo genético, entretanto efetuado tenha concluído pela existência de qualquer mutação Bracs 1 e 2), Ki67 80%, no final do mês de Marco do ano passado e tendo terminado os meus tratamentos (quimioterapia – cirurgia – radioterapia) apenas no transato mês de dezembro não se poderá propriamente afirmar que o processo de recuperação tenha terminado, o mesmo parece continuar, ainda, em curso.

Na verdade e tendo tido a oportunidade de, no principio deste ano, iniciar um novo desafio profissional na minha área mas na Asia, mais concretamente em Hong Kong, e não obstante estar ainda a padecer das mais diversas mazelas físicas e emocionais – na sua maioria efeitos secundários mais ou menos graves decorrentes sobretudo da violência da quimio aplicada – e ter de deixar o meu oásis, Portugal, absolutamente sozinha, decidi seguir esse caminho (um fresh start, em meu entender) continuando neste momento a oriente e onde deverei permanecer pelo período de pelo menos um ano, onde tenho vindo a fazer a minha recuperação diária.

Entendo o apoio da família e dos amigos como obviamente fundamental ao longo de todo este processo. A partilha de experiencias com quem já teve de infelizmente passar por tudo isto quando se fica, de repente, completamente perdido perante um diagnostico tenebroso como este assume aqui particular destaque nem que seja em formato de lembrete diário “Bebe água!!!!” durante a quimio, a titulo meramente exemplificativo. E a fé, a fé constitui uma forca incomensurável para acreditar que o amanha poderá eventualmente ser melhor.

Considero, todavia, que a minha maior motivação terá sido sempre a imensidão de experiencias que ainda queria (e quero!) vivenciar. Para o poder fazer tinha de arranjar forcas – sempre – para me manter viva, para sobreviver a este enorme sofrimento emocional e físico perante o qual, de um momento para o outro e sem que nada o fizesse prever – me deparava e ultrapassa-lo. Ou tentar, no mínimo…

De assinalar, apenas o imenso sentido de urgência com que vivo atualmente e que me ficou (ainda com maior acuidade) desta doença.

Vivo com o mesmo e com a contornar o pânico persistente de voltar a ficar com a doença novamente ativa, o qual insiste em instalar-se de quando em vez. Tento também, por isso, fazer um exercício diário de afastamento do dito, sobretudo através do velho cliché “um dia de cada vez”, único conselho que posso verdadeiramente dar a quem esta agora a passar por todo o processo pós diagnostico: que viva apenas e só o e no presente. Alias, consigo dar este conselho e partilhar ainda um outro ensinamento que sempre segui no decurso deste processo: o de total confiança na dedicada e competentíssima equipa medica que – no caso – me acompanhou e a quem entreguei, por completo (ate porque não disponho de quaisquer conhecimentos técnicos neste domínio) os meus cuidados, e que sempre conseguiu aliar um profundíssimo saber cientifico a um inestimável sentido de humanidade, a quem agradeço profundamente e por quem manifesto a minha inequívoca admiração.

Existirão sempre dias maus, muito maus, péssimos, mas a estes seguir-se-ão sempre dias melhores, ou menos maus, e outros bons, talvez incríveis ate, esta e uma certeza com que fiquei. Esta e a inequívoca noção de que, não obstante ter ao longo da minha vida anterior passado por diversas dificuldades, alguma delas consideradas por mim, a data das ditas, como enormes e intransponíveis problemas, as mesmas não passavam de meros obstáculos ao longo do meu percurso. O verdadeiro e único problema que enfrentei ate hoje, com autentica gravidade, foi esta doença e a ela me dediquei por inteiro e em quase exclusividade, ou melhor, a sua (possível) cura. Foi, por isso, com alivio – mas sempre em estado de alerta – que encarei (e continuo a encarar) o sucesso que foi a resposta completa obtida como resultado do meu tratamento. A melhor noticia que todos poderíamos ter tido, a qual desafortunadamente, nem sempre e possível alcançar e deste facto tenho – todos nos que passamos por isto temos desde o momento em que somos diagnosticados e passamos a viver em sobressalto – a perfeita e plena noção.

Muito obrigada pelo vosso trabalho,
Pat, Hong Kong