Conversa com… Lynne Archibald
Estivemos à conversa com Lynne Archibald, fundadora da Associação Laço em 2001, que tinha como missão sensibilizar para o cancro da mama, promovendo o seu diagnóstico precoce e acima de tudo trazer este tema para a praça pública, quebrando o tabu de falar dele.
Anos mais tarde, decidiram apostar na investigação científica e associar-se ao Instituto de Medicina Molecular (iMM).
“A partir de 2008/2009 fomos percebendo que apesar de haver bastantes avanços nos tratamentos, a taxa de mortalidade não tinha diminuído tanto como o esperado. Apareceram cada vez mais estudos que diziam que em cerca de 30% das mulheres cuja doença era diagnosticada cedo e tratada, anos mais tarde regressava e já em cancro metastizado, isto é, noutros órgãos do corpo. Isto significava que o problema estava dentro do tumor e que era preciso conhecê-lo melhor para prever o seu comportamento.
Demorámos a aceitar esta realidade! Quando saiu o primeiro estudo lembro-me de pensar que não podia ser verdade… Mas foram sendo publicados cada vez mais com as mesmas conclusões. Eram grandes estudos internacionais, que comparavam zonas geográficas onde se tinha realizado rastreio com outras onde este não tinha sido feito. Nas zonas onde tinha havido rastreio, havia um maior número de cancros, pois tumores mais pequenos eram detetados (alguns podiam nunca se desenvolver). Por isso confirmamos que de facto a deteção precoce do cancro é fundamental… mas apenas para alguns tipos de cancro. Restringindo a nossa atividade ao rastreio, não estávamos a ajudar tantas mulheres como pensávamos.
Este embate com a realidade fez-nos repensar a nossa ação e o nosso investimento. Havia uma confiança total na eficácia do rastreio e sentimos que não estávamos a corresponder ao que era esperado. Tínhamos a responsabilidade de fazer mais e melhor e de ser verdadeiras, seguindo a evidência. Decidimos assim voltar à origem – à ciência, à biologia do cancro – porque percebemos que precisamos mesmo dela, de forma a entender melhor o cancro de mama em si.
Tudo isto levou a uma alteração estratégica e estrutural. Primeiro lançamos a Bolsa Laço, com o objetivo de ser uma incubadora para a ciência do cancro da mama. Mas acabámos por encerrar a Associação Laço e entregar esta missão ao iMM. Não foi fácil tomar esta decisão, mas sentimos que que o momento da Laço foi importante, mas que agora temos de nos focar noutro e esse é a ciência e a investigação. Aprendemos muito nesses anos e tomámos consciência do papel da ciência na medicina. Temos que o partilhar também com o público em geral, mostrar às pessoas como funciona um laboratório, que não é igual a um hospital. Quando a informação sobre tratamentos, diagnósticos, conclusões chegam ao hospital, já foi pensado, testado, e muito trabalhado no laboratório. Quisemos mostrar isso às pessoas e considerámos que o iMM era a melhor instituição para o fazer.
Acima de tudo, queríamos alertar para esta situação, do cancro da mama metastático. Sendo o cancro da mama uma importante causa de morte em Portugal, temos que lhe dar especial atenção e investimento.”